O cachorro, Victor Montejo
Muito perto do destacamento militar
um cachorro vira-lata foi morto.
Era um cachorro magro, pulguento,
que os chefes militares pensaram
ser algum jovem guerrilheiro
que passava orinando-lhes as tendas
transformado em cachorro desafiante.
É a crença, diz a gente,
que os soldados matam os perros
porque garantem que os guerrilheiros
com sua habilidade sabem converter-se
em paus, em pedras, em cachorros;
por isso quase nunca caem em combate
os guerilheiros na montanha.
Pobres cachorros intranqüilos
que sofrem igual a seus donos,
uma tortilha ou duas ao dia é tudo que comem,
e são espancados se invadem cozinhas fartas
seduzidos pela fome.
Nunca comem carne, nem em sonhos!
como os gordos cachorros estrangeiros.
Triste cachorro abatido a tiros,
Não era um alto chefe guerrilheiro;
Era simplesmente um cachorro,
um cachorro vira-lata
dos muitos que transitam no povoado
e que sem más intenções
param, levantam a pata e orinam
nos quartéis de assustados coronéis.
Víctor Dioncio Montejo 1951-..., poeta guatemalteco.
Tradução de André Damázio
Original