Epístola irreverente a Jesus Cristo (I), Romelia Alarcón Folgar
Cristo,
Desce já de tua cruz e lava tuas mãos,
lava teus joelhos e teu costado,
penteia teus cabelos,
calça tuas sandálias
e confunde teus passos
com todos os passos que te buscam
pelas cordilherias e o mar;
pelas comarcas;
pelo ar,
pelas cercas dos caminhos.
Tu solucionas qualquer coisa,
para ti tudo é fácil
e então
- que esperas?
Por que não desces de tua cruz agora mesmo?
Sim parábolas, com balas
e soltos arrecifes vingativos
nas mãos...
E se encham as vilas de homens libertados
e sol de meio-dia,
hortos, pombas e rosas
de corolas intactas
e clarins anunciem
pacíficas manhãs.
Cristo,
Desce de tua cruz
onde milhares de homens contigo
estão crucificados:
lava tuas mãos e suas mãos,
teus joelhos e seus joelhos,
teu costado e o costado deles;
lava tua fronte e a fronte deles
coroada de espinhos.
Que não prossiga teu martírio imóvel:
mostra tua ira,
desce já da cruz,
mistura-te aos homens que te amam.
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